quarta-feira, 24 de março de 2010

9 palavras em 1

Para Sempre Alice

Alice é uma mulher brilhante, professora e pesquisadora da universidade de Harvard, tendo sempre se destacado em sua área. Sua vida foi construída com base em planejamento e dedicação acadêmica. Alice acreditava que tinha tudo sob controle, até o dia em que é diagnosticada com Alzheimer de instalação precoce e sua vida vira do avesso. Alice terá que reinventar, a cada dia, a própria vida e terá que conviver com a única certeza que parece lhe restar: a de que ela não será a mesma pessoa daqui a um mês.

Essa é a estória de 'Para Sempre Alice', de Lisa Genova (Editora Nova Fronteira, 2007). Um livro inesquecível.

"Alice contemplou as fileiras de livros e periódicos em sua estante, a pilha de provas finais na escrivaninha, os e-mails em sua caixa de entrada, a luz vermelha piscante da secretária eletrônica. Pensou nos livros que sempre quisera ler, os que adornavam a prateleira superior da estante de seu quarto, aqueles para os quais havia imaginado que teria tempo depois. Moby Dick. Alice tinha experimentos a conduzir, artigos a escrever e palestras a dar e a que assistir. Tudo o que fazia e amava, tudo o que ela era exigia a linguagem.
(...)
Ficou imaginando quando chegaria o momento em que não se lembraria.(...) Sabia que, um dia, olharia para o marido, os filhos e os colegas, para rostos que havia conhecido e amado durante a vida inteira, e não os reconheceria.
(...)
Digitou as palavras 'doença de Alzheimer' no Google. Estava com o dedo médio pousado sobre a tecla 'enter' quando duas batidas causaram-lhe um sobressalto, fazendo-a abortar a missão na velocidade de um reflexo involuntário e esconder as provas.
(...)
- Está pronta? - perguntou John.
Não, não estava. (...) Não estava pronta para se entregar. Ainda não."

segunda-feira, 22 de março de 2010

sexta-feira, 19 de março de 2010

'Mãe, por que não consigo emprego?'



E para aqueles que estão pensando que somos contra tatuagens ou piercings, o texto abaixo é de uma grande amiga, grande publicitária, grande escritora e grande em tudo o que faz (exceto suas tatuagens).
16 ou 17 coisas que você precisa saber sobre uma pessoa tatuada.
(Cristiana Guerra, 11 de fevereiro, 2008)

1. Não, ela não quer falar sobre isso.
2. Sim, ela teve coragem. Ao contrário de você, que está pensando em fazer uma tatuagem há 14 anos.
3. Não, ela não se arrependeu.
4. Ela é tatuada, não tatuadora. E não quer dar a você todas as dicas de como, onde, quando e que desenho tatuar.
5. Cuidado com perguntas do tipo “Você trabalha com tatuagem?” se não quiser ouvir respostas do tipo “Sim, eu não tiro a tatuagem para trabalhar”.
6. A não ser que pinte um clima, não saia botando a mão.
7. Não, ela não é um outdoor, nem um pássaro, nem um avião. Pessoas tatuadas não gostam de ser assistidas como se fossem um filme. Nem de ser observadas e avaliadas como num programa de calouros. Evite dar voltas em volta dela, olhando de cima a baixo.
8. Pode parecer estranho, mas, não, ela não quer chamar atenção. Pode parecer ainda mais estranho, mas as tatuagens são desenhos dela para si mesma, não para os outros. E têm muito mais a ver com o que ela quer dizer para si mesma do que para o mundo.
9. Perguntas do tipo “E essa aqui, o que significa?” só significam uma coisa: você é um chato. Gostaria de ouvir perguntas do tipo “O que significa o seu cabelo chanel?”
10. Proibido fotografar, filmar, tocar ou comer no recinto.
11. Não, ela não quer pensar em um desenho para você tatuar.
12. Sim, ela respeita se você achar ridículo. Mas nem tudo precisa ser dito. Ou ela será obrigada a opinar sobre o seu enorme brinco de pena.
13. Doeu, sim. Mas o que dói mesmo é esse seu olhar de turista.
14. Sim, ela já sabe que você é louco pra fazer uma, mas nunca teve coragem. A pergunta é: “E daí?”
15. Não, ela não tem tatuagem onde você está imaginando.
16. Sim, ela trabalha num lugar muito democrático. Ou usa terno e gravata.
17. Enfim, anotaí: Kaká – (31) 3225 7092 (fica na Fernandes Tourinho).

sexta-feira, 12 de março de 2010

2 momentos de "Preciosa"

(antes de encontrar a professora certa e a escola certa)

"Eu sempre gostei da escola, mas parece que a escola nunca gostou de mim. No jardim de infância e na primeira série eu não falava, eles ria disso. (...) Na segunda série eles ria de COMO eu falava. Por isso eu parei de falar. Pra quê? Foi na segunda série que começou o negócio de eu virar piada. (...) Quando eu levantava eles fazia som que nem de porco roncando. Por isso eu parei de levantar. (...) No começo a professora bancou a boazinha, depois berrava, depois chamava o diretor. O diretor ligou pra mamãe e não lembro pra mais quem. Até que o diretor disse: Fique satisfeita porque esse é o único problema que ela causa a você. O diretor disse à professora: Concentre-se nos que podem aprender."

(depois de encontrar a professora certa e a escola certa)

"Não tenho nada pra escrever hoje, talvez nunca. Agora a marreta tá no meu coração, me batendo, eu sinto como que meu sangue é um rio gigante crescendo dentro de mim e que eu tô afogando. Minha cabeça tá toda escura por dentro. Parece que agora tem um rio gigante na minha frente que eu nunca atravesso. A Srta. Rain diz: Você não tá escrevendo, Precious. Eu digo que tô afogando no rio. Ela não me olha que nem que eu era maluca mas diz: Se ficar só aí sentada, o rio vai subir mais e afogar você! A escrita pode ser o barco que vai levar você pro outro lado. (...)
- Tô cansada! (...)- eu berro, grito pra Srta. Rain: -Você não sabe nada que eu passei! - Nunca fiz isso antes. A turma parece chocada. Fico com vergonha, me sinto burra; sento, ainda por cima me fiz de idiota.
- Abra seu caderno, Precious.
- Tô cansada - eu digo.
Ela diz:
- Sei que está, mas você não pode parar agora, Precious, tem que ter força.
E eu forço."

(Preciosa é a estória de Claireece Precious Jones, uma adolescente obesa e analfabeta do Harlem, vítima de constantes abusos físicos e psicológicos, que alimenta a esperança de melhorar sua vida. O encontro com uma professora batalhadora a apresentará a um mundo novo. Sapphire, Editora Record, Rio de Janeiro, 2010.)

segunda-feira, 8 de março de 2010

Feliz Dia Internacional da Mulher!

Mulheres Possíveis

(Martha Medeiros)

‘Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com eles, estudo com eles, telefono para minha mãe todas as noites, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e ainda faço escova toda semana – e as unhas! E, entre uma coisa e outra, leio livros.

Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic. Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres. Primeiro: a dizer NÃO. Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás. Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho. Você não é Nossa Senhora. Você é, humildemente, uma mulher. E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante.

Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo. Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempo para dançar sozinha na sala. Tempo para bisbilhotar uma loja de discos. Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cinco dias! Tempo para uma massagem. Tempo para ver a novela. Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza. Tempo para fazer um trabalho voluntário. Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto. Tempo para conhecer outras pessoas. Voltar a estudar. Para engravidar. Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado. Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir. Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina? Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem. Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si. Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo! Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente. Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C. Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores. E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante’.

terça-feira, 2 de março de 2010

Letters that should be written II - Cartas que deveriam ser escritas II

(to the president of a soccer team)

Dear President of Atlético,

I've been Atlético's supporter for my entire life and I consider soccer the second best thing in the world. The first one is my family.

I'm writing to you to tell you about a conversation I had with my son the other day, which is reproduced bellow.

We had just watched Atlético 1 x 3 Cruzeiro. We were on the couch, in silence, still absorbing the loss, when he asked:

- Dad, don't you always tell me that I'm not supposed to make fun of the others?

- Yes, I do.

- What about that coach? He has just done the same, with the supporters.

- That's because the supporters were making fun of him before.

- So, whenever someone makes fun of me, it's OK to do the same.

- No!.... That's not.... The thing is, son, when people make fun of you, you should tell them that that's wrong. If you do the same, you will be as wrong as they were.

- And why didn't the coach do it?

- Because his father didn't teach him that.

Mr. President, I’m just a father. There are only 2 people that consider me their leader: my son and my wife. And, to be totally honest, the second usually forgets it. On the other hand, you, the coaches and the other teams’ representatives are the leaders of many generations. Thousands of people look up to you and that’s a huge responsibility.

Whenever a coach or a president of a team makes negative comments about the others and uses sarcasm or irony to express their anger, the rest of the world will be entitled to do the same. But, unfortunately, people might have a different way to express their anger. They may prefer to destroy buses or, who knows, shoot people.

Instead, if you showed respect towards your opponents, they would probably do the same. I believe it’s about time we started teaching the people how to be tolerant and to accept the differences between us, don’t you think?

That's what I'm trying to teach my son. Yesterday, after the match, while we were still sad, he told me: “at least grandpa is happy.” My father is a Cruzeiro’s supporter. He has always been the first one to make jokes when Atlético loses. After he saw my son’s attitude, he changed completely.

I'm very proud of my son, and I wish I could say the same about our sport leaders.

With all respect,

Andrew Harmon


(Ao president de um time de futebol)

Excelentíssimo Senhor Presidente do Atlético,

Tenho sido torcedor do Atlético a vida inteira e considero o futebol a segunda melhor coisa do mundo. A primeira é a minha família.

Estou lhe escrevendo para relatar uma conversa que tive com o meu filho outro dia, a qual reproduzo abaixo.

Havíamos acabado de assistir o jogo Atlético 1 x 3 Cruzeiro. Estávamos no sofá, em silêncio, ainda absorvendo a derrota, quando ele perguntou:

- Pai, você não me diz sempre que não se deve provocar os outros?

- Sim.

- E quanto àquele treinador? Ele não acaba de fazer o mesmo com a torcida?

- Isso é porque a torcida estava provocando ele antes.

- Então, quando alguém me provocar primeiro, eu posso fazer o mesmo.

- Não!....Não é isso.... O negócio é o seguinte, filho, quando as pessoas fizerem isso com você, você deve dizer a elas que isso é errado. Se você fizer o mesmo, vai estar tão errado quanto elas.

- E por que o treinador não fez isso?

- Porque o pai dele não ensinou isso a ele.

Senhor Presidente, eu sou só um pai. Há somente duas pessoas que me consideram um líder: meu filho e minha mulher. E, pra dizer a verdade, a segunda esquece isso com freqüência. Por outro lado, V.Sra. os treinadores e os outros representantes dos times de futebol são líderes de várias gerações. Milhares de pessoas lhes seguem e isso é uma enorme responsabilidade.

Sempre que um treinador ou o presidente de um time faz comentários negativos sobre os outros times e usa o sarcasmo e a ironia para expressar a sua raiva, está autorizando os outros a fazer o mesmo. Mas, infelizmente, nem todos usarão a mesma forma para expressar a sua raiva. Eles talvez prefiram destruir ônibus ou, quem sabe, atirar em outras pessoas.

Ao contrário, se V. Sra. demonstrasse respeito com relação aos adversários, eles provavelmente fariam o mesmo. Eu acredito que esteja na hora de começarmos a ensinar as pessoas a serem tolerantes e a aceitarem as diferenças entre nós, não acha?

Isso é o que eu estou tentando ensinar ao meu filho. Ontem, após o jogo, enquanto ainda estávamos tristes, ele me disse: “pelo menos o vovô está feliz.” Meu pai é torcedor do Cruzeiro. Ele sempre foi o primeiro a fazer provocações quando o Atlético perde. Após perceber a atitude do meu filho, ele mudou completamente.

Eu tenho muito orgulho do meu filho, e gostaria de poder dizer o mesmo com relação aos dirigentes esportivos.

Respeitosamente,

André Assumpção