quinta-feira, 22 de outubro de 2009
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Dia do Professor
O trecho abaixo foi retirado do livro A Elegância do Ouriço, de Muriel Barbery (Companhia das Letras, 2008), e narra o primeiro encontro da protagonista Renée com uma professora.
"Na nossa casa ninguém conversava. As crianças berravam, e os adultos se ocupavam de suas tarefas como teriam feito na solidão. Comíamos o suficiente para matar a fome, embora frugalmente, não éramos maltratados, e nossas roupas de pobres eram limpas e solidamente remendadas, de tal modo que, embora pudéssemos nos envergonhar, não sofríamos de frio. Mas não falávamos.
A revelação aconteceu quando, aos cinco anos, indo à escola pela primeira vez, tive a surpresa e o pavor de ouvir uma voz se dirigir a mim e dizer meu nome de batismo.
"Renée?", interrogava a voz enquanto eu sentia a mão amiga sobre a minha.
Foi no corredor onde, para o primeiro dia de escola e porque chovia, tinham amontoado as crianças.
"Renée?", a voz continuava a modular, vinda do alto, e a mão amiga não parava de exercer em meu braço - incompreensível linguagem - leves e suaves pressões.
Levantei a cabeça e, num movimento insólito que quase me deu tonteira, cruzei com um olhar.
Renée. Tratava-se de mim. Pela primeira vez alguém se dirigia a mim dizendo meu nome de batismo. Ali onde meus pais recorriam a um gesto ou uma bronca, uma mulher, que agora eu achava que tinha os olhos claros e a boca sorridente, abria caminho para o meu coração e, ao pronunciar meu nome, estabelecia comigo uma proximidade da qual até então eu não fazia idéia. Olhei ao redor do mundo que, subitamente, se enfeitou de cores. Num raio doloroso, percebi a chuva que caía lá fora, as janelas lavadas pela água, o cheiro das roupas molhadas, a estreiteza do corredor, uma tripa onde vibrava os grupos de crianças, a pátina dos porta-casacos de bolotas de cobre onde se amontoavam pelerines de lã ordinária - e a altura dos tetos, na medida do céu para um olhar de criança.
Então, meus tristonhos olhos cravados nos dela, agarrei-me à mulher que acabava de me fazer nascer.
(...)
"E esses olhos tão bonitos", me disse também a professora, e tive a intuição de que ela não mentia, que naquele instante meus olhos brilhavam com toda essa beleza e, refletindo o milagre de meu nascimento, cintilavam como mil fogos.
Comecei a tremer e procurei nos dela a cumplicidade que gera a alegria partilhada."
Aos nossos professores nosso agradecimento por partilharem conosco e com seus alunos muito mais do que alegria.
"Na nossa casa ninguém conversava. As crianças berravam, e os adultos se ocupavam de suas tarefas como teriam feito na solidão. Comíamos o suficiente para matar a fome, embora frugalmente, não éramos maltratados, e nossas roupas de pobres eram limpas e solidamente remendadas, de tal modo que, embora pudéssemos nos envergonhar, não sofríamos de frio. Mas não falávamos.
A revelação aconteceu quando, aos cinco anos, indo à escola pela primeira vez, tive a surpresa e o pavor de ouvir uma voz se dirigir a mim e dizer meu nome de batismo.
"Renée?", interrogava a voz enquanto eu sentia a mão amiga sobre a minha.
Foi no corredor onde, para o primeiro dia de escola e porque chovia, tinham amontoado as crianças.
"Renée?", a voz continuava a modular, vinda do alto, e a mão amiga não parava de exercer em meu braço - incompreensível linguagem - leves e suaves pressões.
Levantei a cabeça e, num movimento insólito que quase me deu tonteira, cruzei com um olhar.
Renée. Tratava-se de mim. Pela primeira vez alguém se dirigia a mim dizendo meu nome de batismo. Ali onde meus pais recorriam a um gesto ou uma bronca, uma mulher, que agora eu achava que tinha os olhos claros e a boca sorridente, abria caminho para o meu coração e, ao pronunciar meu nome, estabelecia comigo uma proximidade da qual até então eu não fazia idéia. Olhei ao redor do mundo que, subitamente, se enfeitou de cores. Num raio doloroso, percebi a chuva que caía lá fora, as janelas lavadas pela água, o cheiro das roupas molhadas, a estreiteza do corredor, uma tripa onde vibrava os grupos de crianças, a pátina dos porta-casacos de bolotas de cobre onde se amontoavam pelerines de lã ordinária - e a altura dos tetos, na medida do céu para um olhar de criança.
Então, meus tristonhos olhos cravados nos dela, agarrei-me à mulher que acabava de me fazer nascer.
(...)
"E esses olhos tão bonitos", me disse também a professora, e tive a intuição de que ela não mentia, que naquele instante meus olhos brilhavam com toda essa beleza e, refletindo o milagre de meu nascimento, cintilavam como mil fogos.
Comecei a tremer e procurei nos dela a cumplicidade que gera a alegria partilhada."
Aos nossos professores nosso agradecimento por partilharem conosco e com seus alunos muito mais do que alegria.
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quarta-feira, 7 de outubro de 2009
domingo, 4 de outubro de 2009
Vinicius de Moraes
Escritor, poeta, cantor, músico, compositor e brasileiro. Vinicius de Moraes foi todas estas coisas e em todas foi brilhante.
Com a velocidade atual com que novos compositores são criados e esquecidos, corremos o risco de que Vinicius fique perdido nas estantes de fitas em VHS nos fundos de alguma locadora popular. Para que isso não ocorra e para que as novas gerações descubram que há mais coisas no mundo do que as canções do Fresno e do NXZero, abaixo, um dos sonetos deste poeta universal e imortal.
Soneto de Aniversário
Passem-se dias, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.
Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.
Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.
E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.
Rio, 1942
Uma homenagem especial à aniversariante desta segunda-feira, tão escritora quanto ele, tão polivalente quanto ele, e tão brilhante quanto ele.
sábado, 3 de outubro de 2009
A estória dos 2 lobos
"Em uma noite de lua cheia, um avô brincava com o netinho de 6 anos. Depois de algum tempo ele disse ao menino:
- Ás vezes sinto como se dentro do meu coração houvesse 2 lobos disputando uma luta feroz. O primeiro lobo é extremamente raivoso e cheio de rancor. O segundo lobo é paciente, carinhoso e possui grande compaixão.
O menino, muito curioso, perguntou:
- Vovô, e qual dos dois vai ganhar?
Ao que o avô respondeu:
- Aquele que eu alimentar."
(Estória contada por Frei Inacio Larrañaga, fundador das Oficinas de Oração e Vida, durante uma palestra para casais no Dayrell Hotel, em Belo Horizonte, no dia 02/10/09)
- Ás vezes sinto como se dentro do meu coração houvesse 2 lobos disputando uma luta feroz. O primeiro lobo é extremamente raivoso e cheio de rancor. O segundo lobo é paciente, carinhoso e possui grande compaixão.
O menino, muito curioso, perguntou:
- Vovô, e qual dos dois vai ganhar?
Ao que o avô respondeu:
- Aquele que eu alimentar."
(Estória contada por Frei Inacio Larrañaga, fundador das Oficinas de Oração e Vida, durante uma palestra para casais no Dayrell Hotel, em Belo Horizonte, no dia 02/10/09)
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